Peruzzo abre Simpósio e propõe nova perspectiva para as relações públicas

Professora propõe visão crítica e humanística em sociedade marcada pelas contradições do capitalismo

Gabriel Santos*

Foto: Gabriel Santos

Abrindo a semana de eventos do VI Simpósio de Comunicação Popular e Comunitária, a professora e pesquisadora Cicilia Peruzzo ministrou, nesta segunda-feira (22), o minicurso baseado em sua obra clássica “Relações Públicas no Modo de Produção Capitalista”, publicada em 1986. Embora escrito há quase quatro décadas, o livro ainda provoca reflexões essenciais sobre o papel do profissional de Relações Públicas em uma sociedade estruturada pelo capitalismo.

Durante a apresentação, Peruzzo propôs uma análise crítica das relações públicas a partir do materialismo dialético, método que busca compreender a materialidade dos fenômenos sociais. A professora explicou como o capitalismo organiza as relações de produção, seja no nível empresarial, por meio da produção de mercadorias, do uso da força de trabalho e da extração da mais-valia, seja no nível da sociedade civil e dos governos.

A proposta central de sua obra, como destacou no minicurso, é a necessidade de incluir uma nova perspectiva na atuação das relações-públicas: em vez de servir apenas aos interesses corporativos, a área poderia também ser uma ferramenta a serviço dos interesses populares, inspirando-se nas práticas de comunicação dos movimentos sociais.

“Acredito que o importante para o estudante é tentar ir além das aparências e entender as essências que estruturam a sociedade. Desenvolver senso crítico, perspectiva de intervenção e espírito humanístico é fundamental”, defendeu Peruzzo. Segundo ela, apesar do tempo de publicação, o livro continua atual porque muitos dos mecanismos centrais que moldam a sociedade capitalista permanecem presentes, ainda que reconfigurados. “As essências permanecem. Entender como elas se atualizam é desenvolver criticidade”, completou.

A palestra também provocou reflexões entre professores e estudantes presentes. Para a professora Beatriz Molari, o trabalho de Peruzzo oferece uma ruptura com a visão tradicional da profissão, historicamente atrelada ao mercado: “Ela traz um novo olhar para as relações públicas, muito mais voltado para a sociedade e para uma perspectiva humanística. Mostra que, embora reformulados, muitos desafios continuam os mesmos. A obra atualiza a discussão e amplia as possibilidades de atuação dos futuros profissionais.”

Essa ampliação de horizontes foi justamente um dos objetivos do minicurso, como explicou o professor Rozinaldo Miani, organizador do evento. Ele enfatizou a importância de expor os estudantes a diferentes abordagens dentro da área: “Ao trazer uma pesquisadora referência, cujo livro se tornou leitura obrigatória na formação de relações públicas, oferecemos a oportunidade de pensar a profissão para além do ambiente empresarial. Relações públicas também podem ser um instrumento para processos de transformação social”.

Entre os estudantes, a fala de Peruzzo ressoou de forma especialmente significativa. “Foi importantíssimo. A professora nos mostrou como a lógica da mais-valia e da exploração atravessa o mercado de trabalho”, afirmou Victor Paes, aluno do segundo ano de RP. “Para quem ainda está na formação, como eu, ouvir essa perspectiva crítica foi muito enriquecedor. Ela também nos fez perceber a necessidade constante de atualização dos conhecimentos, porque o capitalismo muda, mas suas bases continuam”, completou.

O minicurso de abertura do VI Simpósio CPC marcou, assim, não apenas o início de uma semana de debates, mas também um convite aos estudantes para que repensem seu papel na sociedade, indo além da lógica mercadológica, em direção a uma atuação mais crítica, ética e transformadora.

*Texto produzido pelos estudantes do 4º ano de Jornalismo na disciplina de Assessoria de Imprensa II